O chá de mel e limão é apresentado em várias publicações nas redes sociais, nas caixas de comentários e em vários sites como um tratamento para a gripe.

Num grupo de Facebook sobre remédios caseiros e ervas medicinais, uma utilizadora pede dicas sobre chá de limão e mel para “a tosse e gripe”. Entre as respostas, há quem aconselhe o chá de mel e limão como uma solução eficaz para o problema. Há até quem diga que a forma correta de fazer esta receita é “espremer o limão e colocar o mel” em água a ferver.

A ingestão do chá é aconselhada também num vídeo partilhado no Facebook para “quando se está com gripe”. A autora alega que a vitamina C do limão “é uma maravilha” e que o mel é “ótimo para a garganta”. Neste caso, à água fervida, é adicionado um pouco de gengibre, que, segundo a autora, deve ser ralado, assim como a casca do limão lavada. De seguida, é adicionada uma colher de mel.

Mas será verdade que o chá de mel e limão cura a gripe? O que é a gripe? O Viral esclareceu as questões com um virologista.

Chá de mel e limão cura a gripe?

Em declarações ao Viral, Celso Cunha, virologista do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa (IHMT), adianta que o chá de mel e limão “não é um tratamento para a gripe, nem para outras doenças respiratórias”.

“Não há evidência científica de que a ingestão de vitamina C presente no limão diminua a gravidade dos sintomas ou a duração dessas doenças respiratórias”, afirma. 

O limão tem vitamina C, que é “essencial para o bom funcionamento do organismo”, explica Celso Cunha. No entanto, quando a pessoa já está com gripe, “não faz nada, não tem relevância, é inútil”.

Por outro lado, a ingestão do mel, que “tem sido utilizado para aliviar sintomas da tosse”, é “comparado ao efeito placebo” e tem um “efeito muito ligeiro” no alívio da tosse. No entanto, não é uma cura.

O especialista do IHMT reforça que, apesar de “não fazer mal”, “não há recomendação” para a ingestão do chá de mel e limão como cura para a gripe.

As pessoas saudáveis, à partida, tratam a gripe “naturalmente”. “É desagradável, mas acaba por passar naturalmente. O organismo consegue tratá-la”, descreve.

Por norma, as pessoas saudáveis recuperam de uma gripe “em três ou quatro dias”, refere o Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC).

A principal preocupação em caso de gripe são as pessoas “mais debilitadas”, como “idosos e imunodeprimidos”, que podem ter “complicações graves”, como pneumonia, salienta o virologista.

O que é a gripe?

A gripe é uma infeção respiratória provocada por um vírus, o influenza, e que tem “bastantes mutações”, explica o especialista consultado pelo Viral.

Segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS), num texto informativo, o pico da gripe acontece, geralmente, nos meses mais frios, ou seja, entre novembro e março no hemisfério Norte e entre abril e setembro no hemisfério sul, apesar de também existir em “invernos mais amenos, menos frios e chuvosos”.

A gripe é transmitida através de partículas de saliva de uma pessoa infetada, que são expelidas através da tosse, de espirros ou do “contacto direto com partes do corpo ou superfícies contaminadas”, refere a DGS no mesmo texto.

Devido ao número de mutações, esclarece Celso Cunha, há a necessidade de “tomarmos a vacina contra a gripe todos os anos”, que vai sendo adaptada e atualizada para as populações.

Os sintomas mais comuns em adultos e crianças são febre, dores musculares, alguma fadiga e tosse, aponta o virologista. A DGS acrescenta que esta infeção pode provocar também dores de cabeça e inflamação dos olhos. Nos bebés, a febre, prostração e os sintomas gastrointestinais são frequentes.

Como podemos prevenir a gripe?

A melhor prevenção para a gripe, sobretudo para as pessoas que inspiram “maior preocupação”, como idosos e imunodeprimidos, é “evitar os contactos”, aponta o virologista ouvido pelo Viral.

Nas pessoas mais vulneráveis, refere a DGS, a gripe pode desenvolver pneumonia e descompensação da doença de base, como asma, diabetes, doença cardíaca, pulmonar ou renal.

“Estas pessoas devem evitar grandes aglomerações de pessoas, ter algum cuidado com os contactos, principalmente numa altura em que é mais habitual andarmos empilhados em sítios menos arejados”, alerta Celso Cunha.

Além disso, o CDC considera que a vacinação é a “melhor maneira” de proteger contra a gripe, uma vez que reduz o risco de contrair o vírus e de complicações, em caso de infeção.

Quem é que deve ser vacinado? Pessoas com 65 anos ou mais, pessoas com doenças crónicas nos pulmões, coração, rins e fígado, diabéticos, grávidas e pessoas com “outras doenças que diminuam a resistência às infeções”, aponta a DGS. Estes grupos são também apontados como prioritários na vacinação contra a gripe pelo CDC.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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